sexta-feira, 6 de maio de 2011

Um Presidente de verdade, não manietado pelos amigos da banca...


'Entre as exigências dos mercados e a democracia eu tenho de escolher a democracia'

Ólafur Ragnar Grímsson, 67 anos, Presidente da Islândia


Os islandeses rejeitaram, por duas vezes, pagar a dívida do Icesave. O senhor disse que é preciso encontrar uma solução política para este caso. Que solução?

O assunto Icesave é complexo, levanta muitas questões. A primeira é saber qual a natureza do sistema bancário e de regulação, na Europa. Também levanta a questão de saber até que ponto é lícito pedir aos cidadãos comuns - agricultores, pescadores, enfermeiros, professores - que paguem, com os seus impostos, durante 30 anos, o falhanço de um banco privado. A natureza do sistema bancário europeu é esta: se os bancos têm êxito, os banqueiros recebem grandes bónus e os acionistas recebem dividendos; se falham, a conta é apresentada aos cidadãos comuns. Outra questão que se põe é a das responsabilidades das autoridades reguladoras. A minha opinião é que os cidadãos comuns estão a ser convidados a pagar a conta do falhanço de um banco. Muito provavelmente, a verba resultante da venda do património do banco [Landsbanki] cobrirá a dívida. Se assim for, qual é o caso?

Tem valorizado sempre a vertente política e social desta crise. Essa é a primeira lição a tirar da experiência da Islândia?

Podemos dizer que esta foi uma crise financeira. Mas também podemos dizer que foi, fundamentalmente, uma crise democrática. Quando decidi colocar a questão em referendo, disse que, ao olhar para todas as análises, fiquei, no fim, com uma escolha: entre as exigências dos mercados financeiros, por um lado, e a democracia, por outro, eu tenho de escolher a democracia. Porque a democracia é muito mais importante para a nossa sociedade do que os mercados.

Muitos países europeus, como Portugal, têm problemas de dívida. Acredita que pode haver um diálogo, ou uma plataforma, entre estes países com problemas semelhantes?

É muito difícil, para mim, responder-lhe... Sempre defendi que a nossa experiência oferece muitas lições interessantes. Cabe aos povos dos outros países, e aos seus governantes, decidirem quais as lições que querem tirar. Depois, Portugal é membro da União Europeia, e, portanto, não está sujeito apenas às suas próprias decisões. O processo, na UE, envolve negociação. Mas, baseado na experiência da Islândia, sublinho que, quando os bancos faliram, e enfrentámos uma crise profunda, descobrimos que isto não é apenas uma crise financeira ou económica. Foi, também, uma profunda crise política e social. Houve manifestações, protestos, até violência, como nunca víramos antes. Para lidarmos com uma crise destas temos um desafio pela frente que não é apenas económico, é, sobretudo, democrático e social. E uma das razões pelas quais a Islândia está a sair desta crise, mais cedo e com mais determinação do que outros países, é porque também lidámos com o desafio democrático e social. Não chega que haja encontros entre ministros das Finanças ou banqueiros, para se sair desta crise em bom estado temos de perceber que a crise foi um choque para os cidadãos. Temos de reforçar a vontade popular e democrática da nação. Seja em cooperação com outros países seja sozinhos. A lição islandesa é esta: nós deixámos que os bancos falissem, não lhes injetámos dinheiro dos contribuintes - e pode dizer que isso foi porque não tínhamos o dinheiro necessário, o que é verdade, mas foi também por uma questão de princípio. Os bancos fazem parte da economia privada e, quando esta falha, deve acarretar a maior parte da responsabilidade. Não podemos ter um sistema em que a economia privada falha e a responsabilidade é passada para o povo. A Islândia foi um minilaboratório de todas estas questões: FMI, crise financeira, crise social. Num laboratório pequeno é mais fácil observar as coisas. Eu estou disponível para dialogar com outros sobre a nossa experiência.

(extrato de entrevista ao Presidente da Islândia in Visão 6/5/2011)

N.R. Há algo para aprender com a crise Islandesa? Seguramente que sim. Quando os governantes não estão ao serviço dos especuladores, mas do povo que deviam representar, a população em geral não é roubada como está a acontecer em Portugal!

Dia 5 de JUNHO é o dia do referendo em Portugal.
A pergunta a responder é a seguinte: Vamos continuar a deixar os mesmos que roubam Portugal á mais de 30 anos continuar a governar?

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