sábado, 1 de outubro de 2011

Palavras para quê? São os ladrões que nos governam e está tudo dito!

Um povo imbecibilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo,burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, sem mostrar os dentes, a energia de um coice, pois que já nem com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando de onde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso de alma nacional, reflexo de astro de silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, civica e politicamente corrupta até á medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira á falsificação.

Um poder legislativo cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente tornado absoluta pela abdicação unânime do país.
A justiça ao arbitrio da politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, identicos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.

(1896 - Guerra Junqueiro)

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